O QUE FOI NÃO VOLTA A SER


Meios mas sem o Fim, assim se dá o meu desencontro... no meu encontro com o tempo dos outros, pelos outros. Tempo meu que escorre vida noutras vidas, sem me sentir... sem lugar no palco do oxigénio, sem lugar no palco do mimo ou no da música. Quase nunca de mim para mim mas de mim para outros... confesso-me culpada! Em que palco, sobre qual mar ou olhar escorrem as minhas lágrimas pelos dois cantos dos meus sorrisos...? Não na escolha, decisão ou razão... na plateia do amor, sentada numa cadeira sem número.
Vivência que não volta atrás, mesmo que tente de olhos fechados...



DE MAR PARA O MAR


Fragmentos...

de viagens, de tempo,
prazer, história,
música, sentimento,
liberdade sem memória,

lábios, licor,
cigarros, paixão
corpos, ardor,
horas sem explicação,

nudez, desregra,
chocolate, segredos,
palavras, entrega,
cumplicidade sem medos...

mensagens, sorrisos, lágrimas,

... submersos.

MAY 21, 10:30AM

SENTIDOS


Sentada em pautas de madeira e tempo,
vestida de negro, de pensamentos fechados
num de olhar de luto preste a nascer.
Elemento profano em nébula verde e sagrada
de ruídos silvestres em ópio turvo acastanhado.
Somente a verdade do azul que a plana
a tenta trazer do que fora.
Um rio travesso esconde-se-lhe nas costas,
tenta distraí-la com um imparável riso salpico,
dos cachos lisos, transparentes, quase visíveis.
E ela escreve,
palavras, gotículas de instâncias e tormenta
do que nada mais a alimenta.


SILÊNCIOS DEPOIS...


Planaste da terra dos tecidos pelos sopros das flautas,
habitado de cores, especiarias, odores e sabores
de descobertas para mim!
Trazes-me o mundo sem saberes...
iluminas-me.

Chamas sábias ardiam impaciência, odor silvestre...

Quadrado, transparência, eu,
o nosso olhar fitou a tua chegada
acompanharam a classe dos teus passos,
da tuas formas... cobertos pela classe
de uma noite negra sem brilho
opaca de brilhantismos ou rostos de Veneza,
sem medos ou segredos... pelo instinto, vieste italiano.

Do toque à frincha, do olhar à presença,
osmose dos corpos num papel sem nome...
ali, os lábios sem remetente ou destinatário,
dissolveram-se na seiva morna do beijo,
desencontrados pelo desenfreio do tempo
e lugares distantes que os separou...
vieste!
Incorporou-se a suavidade das peles no silêncio
das palavras que não precisaram de existir...
linguagem imperfeita.


ESTRANHA SINTONIA

Como eras? Qual a tua história? Quem te habitou?
Viste nascer... viste morrer. Imensa, misteriosa... tão quieta.

Serves agora de tela à Natureza, os elementos cobrem-te o rosto de verde agreste, água e vento pardam a tua pele, o teu mistério. Abandonada, sentes que a luz dos dias não te ilumina, atenua a dor do que pensas ser. Vives o desprezo e a indiferença dos distraídos, mas... passei e em vertigem de semelhança caminhei para o teu lugar, contemplei-te em notas frescas do riacho que te valsa o corpo e as horas. Respirei um odor frio que emanava da tua sombra... foi aí que me pediste a mão sobre a face áspera do teu tempo, com os meus dedos trémulos senti o teu choro seco, humilde... dando à luz uma lágrima na face pálida do meu tempo.
Segredei-te: "és bela." Partiste comigo.


ASHES... NO MORE WINE

"Não se deixe abalar pelo fato de um dia ter demonstrado os seus sentimentos para quem não soube valorizá-los, o importante é que você soube assumí-los sem medo... Às vezes, construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas, mas com o passar do tempo, percebemos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para eles..."

(IN)GENUINIDADE

Peles que se esquecem de existir, pálidas do seu ser, desfalecidas nas vidas de outras vidas... aí me desencontro, absorta pelos odores desabituados de almas inconscientes de costas voltadas à essência íris. Debruçada sobre mim, contemplo miosótis que nascem dos meus poros... sim, de sangue azul. Orgias de sensações latejam no meu sangue embriagado pelo fluído da verdade nascido das esferas bacas ... saram feridas minhas do que já passou, encrostando-me de vontades. Trago um sono leve pela transparência feminina que me habita em leito humilde, mas com a suavidade da consciência. Durmo sobre as sílabas que o silêncio me profere em correntes etereas do D´Ouro "és minha, espero-te".

A Sede dos meus segredos, dos meus sonhos, mora nas terras dos meus dias, ora anis, ora pimenta... aromas distintos pela vida que os planta, a minha.



MEMÓRIA, EU E TU


Obrigada,

Pelos momentos íris dos gladíolos na varanda branca.
Odores frescos imortizados nas telas, em mim, da garagem fria a Nascente,
pela harmonia dos teus braços no meu corpo do teu para o meu leito.
Ecos do meu nome pelo calor denso da rua em noites de Verão...
hora da recolha que fingia não ouvir.
Pelas incessantes viagens de descanso ao Sul, com sabor igual...
mas diferentes, ora figo, amêndoa ou alfarroba.
Pela permissão do a preto e branco Hitchcock... deveras tardio.
Meu corpo rosa dança na minha memória calçado em fitas de cetim...
estreia com "Fur Elise".
Inigualável paladar do teu iogurte natural... as tuas mãos!
Pelo teu sopro na minha pele, na hora das minhas feridas, da minha dor.
Pela dedicação dos trajes rigorosos das cores carnavalescas
que despoletavam riso no sangue da minha criança.
Pela vivência nos pinhais em tardes quentes ao ruído da caruma seca
em busca de camarinhas de sorte azeda.
A paciência nos banhos espuma, frasco Klorane de vidro... azulejos azuis?
Pelas tuas mãos o movimento do baloiço e a escalada ao escorregão...
platinado, por vezes escaldante.
Os padrões suaves dos meus vestidos simples debruados em folhinhos.
A minha face no "sol" da tua vacina, do teu ombro sempre frio,
o segredo do meu adormecer nas pontas dos teus dedos...
sobre mim.

Obrigada pelo Amor

"Buguso"