LETARGIA (AMPUTADOS EMOCIONAIS)


Vidas que não suas... mas de outros, para os outros.

Espectros em travessias de mentira a pincel,
iluminam-se nas vestes, traçadas pelo bicho Tempo,
Rostos perfeitos em molduras perfeitas
Vozes em acorde de Aparência
Sorriso em lugar do Choro
em Restos de Comodismo
Corações presos num Nada em que
Almas encarceradas gritam odores distantes,
que gritam por colares e rebuliço,
em prado de malmequeres!
Mentes afogadas na rota da exibição barata da "matéria"...
Esperanças adiadas, pigmentadas em derme falsa de savoir-faire.

Traja-se a frustração preta e branca
a óleo altruísta de cor garrida,
pinta-se o corpo e ego o mais que se puder,
espremendo até ao fim. Deixa-se secar...
Secando as emoções, a confiança... sentimentos,
dos que amam amar.



PERDIÇÃO


Vivida em ti, Tanto! Mas sem mim.

Paixão minha, silenciada por outra Qualquer, tua.
Queda em conformismo e na ainda dor...
agora mais generosa.
Quando morrer...
planando virei buscar toda uma vida de um tempo
que existi sem ti.



INCROCIO CON LUSITANA


Viagem através de vento e distância,
pelo ar da ansiedade e pelo alcatrão do desejo.
Correspondência, presença...
mornas palavras em lábios de peles impacientes,

hora dos Lobos, a nossa... fuga dos que pressentiam, os outros.

No romper do caminho, olhares destemidos devoravam o horizonte
já dormente.
O fim desse desejo era o começo...
gestos destemidos em corpos cativos sem tempo envolveram-se
em essências esquecidas, sem amarras, sem medos...
era esta a vez, o rumo à Libertação.


(Horas, Penetrações soberbas, fluídos apetecidos, matéria e espírito desenfreados ali, na desregra e no Relincho de imoralidade em pradaria urbana. O canto do silêncio ouvia-se somente nas pausas, a espera da força em corpos exaustos era feita de risos e palavras... o acto voltara.)

Foste mas ficando.


DALI (Í)


Beijos sem beijar entre lábios desconhecidos...surreal...
momentos fingidos de um à vontade... tingidos de incerteza.

Pele nua, almas sedentas de vida, embebidas na escuridão
que nos confundia as formas e
contornos suaves da imensidão
do teu corpo, no meu.

Uma palavra pela ausente coragem que desfaleceu sobre ti,
o meu rosto, eu, que negou entrega naquele momento de vida.
Nasceu um prazer teu que foi meu durante e até depois...

Uma penetração emocional e madura fluíu em gestos nossos
pousando
o resto da madrugada em nós... no manto da compreensão,

adormecemos.



MEMÓRIA


Poderia descrever-te com mil aromas, com mil sabores ou mil segredos... mas jamais conseguiria descrever como é Sentir a tua mão na minha face...o teu cabelo na minha pele... os teus lábios na minha boca... o teu beijo mais profundo que alguma vez pude Sentir.


ENCONTRO DO CISNE QUIETO


São voos...

os olhares
que te despem a timidez
são pardos os sorrisos de uma, esta e outra vez,
em que troquei lágrimas por ouro e lástimas
por flores de um prado verde, relvado de pássaros... aconchegado.
Um paraíso a que chamamos...


o Amor como encontro celeste com o Abismo


NÃO PRECISO DA REALIDADE


Tempo,


Passas e roubas-me sabor e memória

Passas e destróis a máscara de uma existência
Tiras-me sem pedir o que não te quero dar
Tiras-lhe o desejo que ele guardara de mim
Devolve-me os segundos dos olhos fechados,
Devolve-me a despedida dos corpos e segredos desvendados
Deixa-o ficar, deixa-o em mim e desaparece tu,
esvaziando sim a tua memória!

Deixa-nos ficar aqui, neste Manto pérola de cumplicidade
Onde o meu corpo, agora sozinho, dança e ainda Nos sente
Onde fomos o que não seremos mais na minha cela de paixão,
E onde num pedaço dele fiz a minha rua... onde com as suas mãos ele rasgou o meu mar.

Tempo, dá-me as tuas mãos por cima das horas...